segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Rumo a casa - a Solidão da Cidade


Mais uma vez saio deste lugar recalcado e de pedras centenárias. Com um pouco de jeito e um pouco de desleixo fujo às poças grandes, calcando pedras bicudas e poças menos profundas.
Parece que me fala, este lugar, que me quer aconchegar e abraçar. Contudo, aos poucos, passo após passo, abandono-o.
A rua! As pessoas fogem do olhar directo, olham-me de lado, de alto a baixo e de baixo para cima, mas nunca de frente. Hoje, tal como ontem, avanço pela multidão, pelo ruído de vozes altas e vozes baixas, buzinas de carros e sons menos rotineiros. Sou um espectro, ninguém aqui testemunha a minha luta infinita, ninguém me pergunta donde venho ou para onde vou, e eu caminho.
Finalmente chego à estação do metro, sem antes contemplar a imagem que se me apresenta. Ah! Quem me dera ser pintora, para pintar as sombras, as cores, a arquitectura monumental. Não, talvez poeta, sim, poeta, para descrever tão sublime imagem, triste e saudosista, tão própria do meu Porto! Descrever as gaivotas e os pombos que esvoaçam, partem das casas antigas e aninham em qualquer sítio que lhes dê conforto; e a magnitude destes monumentos, prédios e casas, as gotas negras que os cobrem de luto, relembrando o quão efémera a vida é, e ao mesmo tempo bela, única e imprevisível.
Mas não, não posso, 17:40, devo ir, tenho que ir… E vou! Deparo-me com o presente, as tecnologias tornaram possível tudo o que avisto e ouço e… ouço o metro, tenho que ir, rápido, rápido, o metro chama-me. Corro, desço escadas, e ouço passos, quem lá vem? Só mais um desconhecido que por instantes se torna meu companheiro de viagem.
Cheguei. Sento-me num banco e olho em meu redor. As vozes traulitantes dos estudantes, o olhar vago e translúcido de alguns idosos, a sinfonia desconexa dos passos dos que entram e dos que saem e… Ups…. Saio aqui…
A comitiva dos que “saem aqui” agrupa-se como um grupo coeso, é emocionante, subimos as escadas juntos, competimos pelo primeiro lugar, pela frente do grupo e, de repente, cá fora, afastamo-nos.
Mais uma vez, maquinalmente, caminho, sem parar uma vez, por vezes até conto os passos, 4 282 são normalmente os passos que dou até casa, sempre em frente. E cada passo que dou, penso eu, é um passo que já perdi, que não volta, e não há nada atrás, só há frente.
Eis que chego a meio da minha jornada, aqui onde normalmente há um velho na paragem do autocarro e todos os dias diz: “Olá menina, menina linda”. Já não o vejo há muito tempo, a única pessoa que me reconhece em todo o meu caminho.
Continuo a minha jornada, pelo meio das folhas secas caídas, dos transeuntes que aparecem e desaparecem, os carros acelerados e os pachorrentos, e contínuo, até chegar a casa.
Cheguei, sento-me, estou cansada, encosta a cabeça às pernas e choro. A voz não se ouve, a voz não fala, a voz calou-se. Silêncio.
Aos poucos faço o que sempre faço: preparo uma refeição, estudo e deito-me. Os músculos do meu corpo agradecem e uma voz ressurge, partindo do centro de mim, por estímulos e impulsos nervosos, inflama todo o meu corpo e diz baixinho: “ Amanhã é o dia!”. A voz cresce, grita, lateja e enche o meu coração de esperança e… o despertador toca! 7:30 da manhã.
Hoje é o dia!! Hoje tem que ser o dia!!!

1 comentário:

Ana disse...

Hoje é o dia, amanhã é também o dia que virá! :) E terás mais passos para contar, para percorrer... e eu para te acompanhar, minha amiga! :)

Adoro o que escreves! Já tinha saudades! ;)

Beijoca grande