Hoje tive um sonho! Sonhei com o futuro! Sonhei com um Mundo em que as crianças usam máscaras para respirar, em que os pais lutam entre si por dinheiro, em que os adolescentes não sabem o que fazer com o seu futuro. Qual é, então a diferença entre os dias de hoje?
No meu sonho só havia uma árvore. Uma única árvore. O seu tronco era antigo, negro pela poluição. As suas folhas eram de um verde amarelado, adoentadas pela falta de luz. Os seus frutos eram insípidos, aguados, grandes, bonitos e com leve travo a remédio. No topo da árvore estava um ninho! Dois ovos escuros, frios, jaziam dentro. Um rachado, outro seco, e uma ave acabrunhada piava para o céu! As patas mostravam idade, o bico era escuro, cinza. As penas eram melancólicas, sem brilho (também, que ave teria vontade de se cuidar em tal estado de abandono profundo).
Este cenário estava vedado, numa espécie de estufa. O tecto impedia que os raios ultra-violeta penetrassem para dentro, protegendo os seres vivos (uma árvore e uma ave) que lá habitavam. Observava-se um céu escuro, metamorfoseado, em andamento cego sobre o ténue e protector tecto. O rumor era de que o buraco do ozono era tão grande que as nuvens tomaram conta do céu, uma reacção própria da Natureza.
Crianças, poucas, adoentadas, olhavam e apontavam para última árvore do Mundo, com olhar incrédulo, pasmado. Algumas procuravam a ficha que ligava à electricidade, ou o sítio onde poderiam estar as pilhas.
Eis então que saí do recinto. Um labirinto infindável de construções deparava-se à minha frente. Gigantes arquitecturais prédios mostravam semblantes escondidos por entre as nuvens movediças. Mas o meu maior espanto! Bicicletas! Tantas bicicletas! Bicicletas com uma, duas, três, quatro e até cinco rodas! Pessoas moviam a pedais estas estruturas de brilho metálico. Mas a maior parte andava a pé! Não se via carros, não se via motas. De vez em quando surgiam objectos de grande dimensão com pessoas sumptuosas dentro, sendo que raramente se conseguiam ver porque os objectos eram aparentemente cerrados em si, apenas alguns mostravam pequenas fissuras por onde se podia ver as entranhas.
No entanto, a maior parte das pessoas eram tristes. De um pálido amarelo. Com caras escavacadas e corpos ossudos. Os olhos eram pequenos com as pupilas dilatadas, a pele era estaladiça, seca, e os lábios pareciam um amontoado de peles soltas avermelhadas. As mãos eram compridas, finas, com velhos livros e velhas pastas. As roupas, melhor, trapos, eram velhos e escuros. Algumas não tinham sapatos, mas também o chão parecia estéril, inabitável, com o negrume.
Andei involuntariamente pelo tráfego pedestre, caminhei entre as pessoas e elas nem davam pela minha presença.
Eis que acordei! Tremi e arregalei os olhos! Abri a janela, e vi…árvores, ouvi pássaros a chilrear. O Céu era azul, enublado e a chuva a caia de mansinho nas folhas das árvores, obrigando-as a movimentos quase imperceptíveis.
Fechei os olhos e desejei que o meu sonho nunca se torne realidade!...
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1 comentário:
muito lindo Ana.
ainda bem que acordas-te pois eu não ia querer viver num mundo assim... mas será que não o vamos viver? olhar para o céu hoje pode ser a ultima recordação de vermos um céu azul! Fantástico.
está de parabéns a menina.
beijos
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